sábado, 31 de março de 2012

[...]
        — Está ficando cada vez mais dificil. Eu não aguento essa pressão no meu peito, essa coisa na minha cabeça.
        — Laura, Laura... já falamos disso tantas vezes. É tudo uma fase, garota. As coisas acontecem em nossa vida para sermos testados.
        — Isso eu escuto em todo lugar, que tudo é teste, é provação. Mas quem projeta um teste tão amargo? Para que comigo? Por que tirar as pessoas que mais amo? Não vejo justiça nisso e isso me deixa maluca, Miguel.
        — Não é fácil, para ninguém, Laura.
        — Meu pai não melhora um nada. Eu passo no quarto dele todos os dias, quase todos os dias, e ele nem parece saber que eu estou ali, olhando por ele, do lado dele.
        —Ele sabe, Laura. Ele sabe.
        —Eu não aguento mais isso, Miguel. é insuportável. Quando aquela desgraça aconteceu, tudo que eu menos esperava é que o Orlando fosse me apontar o dedo, me acusar. Tomei duas facadas no mesmo dia. A perda do meu amor e a acusação do meu marido.
        — Você quer saber o que eu penso do Orlando?
        Laura secou as lágrimas sem responder.
        — Eu acho que ele é um grande dum babaca. Um babaca enorme. Ele não entende nada da vida e não merecia uma mulher como você.
        Laura finge um sorriso para o amigo.
        — Você é uma mulher maravilhosa.
        — Ele me deixou, como uma roupa rasgada, uma coisa com defeito, uma cadela sarnenta, um monstro abominável.
        — Ele escolheu a saída dos covardes, Laura. Ele resolveu que toda a culpa era sua, que a grande perda de vocês dois era por culpa sua. Ele foi covarde, despreparado. Já falamos disso também. Isso te tortura tanto, deixe de lado esses pensamentos. Pense no amanhã, pense que teu pai vai precisar de você firme quando sair do coma. O Orlando foi fraco... a desistência, o abandono, foi mais fácil para ele.
        — E eu? E eu? Acha que não senti medo? Que não fiquei aflita também? Você bem sabe que quando eu me senti derrotada, culpada e desprezível sem precisar de ninguém apontando o dedo para mim. Logo ele. Logo o Orlando.
        Miguel nota que neste instante, Laura passa a mão direita sobre as marcas em seu pulso esquerdo. Toma as mãos da mulher, que resiste a princípio, mas acaba se entregando ao amigo.
        — Todos somos fracos em certos momentos de nossas vidas, Laura. Você foi fraca naquele momento. Mas estava coberta por um milhão de razões para se sentir perdida. A vida é a coisa mais rica que temos. Mas as atribulações são tantas que às vezes perdemos a dimensão de tudo, nos sufocamos, quase afogamos em nossa própria tormenta, e autopiedade sem conseguir atingir o objetivo principal; nossos espíritos precisam da forja pesada para evoluir. Por isso nada vem fácil, querida.
        — Não entendo isso. Não entendo mesmo. Por que iriam traçar um destino para depois tomar aquilo que é mais caro a todos nós... tirar o maior bem de alguém tão puro e tão lindo. isso não se encaixa.
        — Nade contra esses sentimentos, Laura, não se entregue agora.
        — Eu parei de nadar faz tempo, Miguel. Eu me afoguei. Igual à minha tia Ana. [...]
        — Sei que tenho que ser forte. Todos os dias tento voltar a sorrir, mas simplesmente não dá. Eu penso no meu pai. Eu tenho que ser forte por ele agora... mas está sendo tão difícil.
        — Tem que ser forte por você. Não vale a pena anular a vida com tristeza. Estamos aqui, passando pelos dias, passando por nosso período de vida, é um desperdício tremendo ficar aguando as ervas daninhas do passado, as frutas mortas. Deixe a alegria florescer no seu coração, Laura. O que está feito, está feio. Você pagou o que devia, agora erga a cabeça e continue, garota. Crie um futuro. Crie alegria no seu futuro. O que conta é o agora e nada mais.


                                                                    O Caso Laura - André Vianco 

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